domingo, 3 de maio de 2009

DOIS EMAILS

Querido, minha amiga brasileira Alice me telefonou e saímos: tomamos uma bebida típica de Verona e comemos uma coisinha leve, caminhamos pelas ruas iluminadas, cheias de gente andando de bermuda e camiseta. Faz calor prá alguns, para mim ainda faz frio, especialmente a noite. Dizem que Roma é conhecida mundialmente pelas suas ruas históricas no trastevere, região central, que já foi muito decadente e que hoje é possível caminhar como turista sem problema nenhum. Todos passeiam, sentam nas praças, bebem alguma coisa, cantam, tocam ou assistem aos espetáculos de rua. Não tinha saído à noite ainda em Roma, é uma experiência, à parte, é muito bonito, pode ser caro, mas pode não ser, se vamos apenas caminhar e olhar o movimento, sentir o desabrochar da primavera, isso não custa nada. Alice chegou de Verona, finalmente seu curso vai começar aqui. Ela me lembra de Alice no país das maravilhas, é tão bela e gentil que parece mesmo uma Alice de contos de fadas. Falei com ela sobre guardar nossas malas,quando viajarmos, disse que faz isso sem problemas. Foi muito agradável sair com ela,pensei que você também gostaria de sair com a gente nesse clima à noite. Que bom que logo vamos nos encontrar! Vou me deitar, amanhã o dia será longo, quero ir à biblioteca, à embaixada, começar a traduzir o texto pra quinta feira, e se der começo a outra aula de italiano também, ás 16hs. O dia está cheio, isso me faz bem.um beijo, boa noite, durma bem, descanse, sua Dri.

Querida,
ocê aí em Roma passeando e eu aqui assistindo um pedaço dos jogos
corinthias x santos e bota fogo x flamengo. Quem diria!
Acho que vou torcer para o corintias agora, e às pessoas que se espantarem
com minha mudança futebolística direi, ora os jogadores também não trocam de time?
Muito bonita a descrição do seu passeio em Roma. Dá para imaginar a beleza dessas ruas e o movimento dos transeuntes saudando a nova estação. Não te falei que a mudança era enorme?!

Conto-lhe então um pouco do que minha manhã neste domingo:
Hoje passeei na praia, chegando lá, encontrei, sentado na grande pedra debaixo da ponte, um desses hippies barbados com sua mochila e olhar distante. Ele estava tão só quanto a pedra. Perguntei-me o que ele estaria pensando, o que ele buscava... E quando ele se levantou e se foi, me perguntei para onde ele ía? Ele sumiu entre as pedras, como eu apareci. Fui então para o alto da pedra e fiquei olhando a água verde do mar, das pedras ao horizonte, e o vento balançando o capim. Desejei estar com a câmara fotográfica para criar imagens daquela dança: o vento, o capim, o sol e os sons. Tudo estava só; a água com seus movimentos instantâneos e repetidos há séculos, o capim com sua vida curta, o vento com sua falta de forma, a pedra com sua dureza paciente, aquele homem marginal com sua mochila pedra. Por um instante estive com todos e me lembrei das palavras do mestre Dogen: estudar o zen é estudar a si mesmo. Estudar a si mesmo é esquecer de si mesmo. Esquecer de si mesmo é estar uno com todas as coisas.

Boa noite, bons sonhos, bom descanso
beijo seu fer

Um comentário:

  1. impressionante!! estou pasma! eu acabei de rever os dois emails que trocamos ontem, gostei tanto dos textos que os lancei no word para rever alguns pequenos erros de digitação e postar no blog, e quando eu vou fazer isso, você mais rápido do que eu, mas com a mesma idéia já havia feito!
    Ficou lindo querido, obrigada,
    beijo, amo vc, dri

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