Noite fresca, daquelas em que se pode colocar camisa de manga comprida, branca. Quase me estranho no espelho, tal é o costume de usar camisetas vermelhas. Bate-papo com Raimundo Carrero, escritor pernambucano sobre criação de narrativas. Não conheço o escritor, mas me interesso por todo bate-papo de escritor que ousa falar sobre criação literária, trata-se do sujeito que fala de dentro e de fora da questão. Centro da cidade, chego cedo, tomo café sem ceder às ofertas de bolos e quitutes. Carrero lança o livro “Os Segredos da ficção”, leio a introdução fabulosa e encanto-me com o percurso dele. Ele fala, entre um caso engraçado e outro, lembrando Ariano Suassuna, que não confia em talento, não confia em inspiração, não confia em estilo, fala de transpiração e fecha: devemos racionalizar o trabalho não a invenção. Seduz o auditório e aumenta minha demanda de leitura de livros de formação: Flaubert: Educação sentimental” e outra que nem conhecia de longe: “A História de um coração humilde”, Osman Lins, “Avalovara” que me espera na estante, e me seduz tanto que imediatamente lerei a página de abertura deste romance, Clarice Linspector: “A Hora da estrela”, acrescento Goethe, sem certeza do título, Wilhelmeister. Do próprio Carrero: “Ao Redor de um escorpião e uma tarântula”. Ensina sobre os três “eus”: o eu ficcional, o eu confessional, o alter ego e também os três “eles”. Mas o melhor mesmo é a fé expressa: “literatura é a maravilha das maravilhas! Acredito na literatura como elemento capaz de mudar minha vida e capaz de mudar o mundo”. Carrego a lição: quando se começa a escrever a primeira coisa a fazer é criar o narrador, um autor não diz, um autor narra, escritor não tem estilo, quem tem estilo é o personagem, nenhum autor está no livro, quem está no livro é o narrador. Começo a digerir tudo isso no ônibus. Trago coisa suficiente para ficar excitado. Pelo viso não dormirei bem hoje. Dê-me seu amor porque é dele que eu preciso.
terça-feira, 10 de março de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Meu bem, que texto apaixonado! que maravilha quando uma paelstra nos arrebata ssim e nos lança para fazer e lermos coisas novas... que delícia te ver encantado!
ResponderExcluirOsman Lins me espera já há muito tempo, Goethe nem se fala... Os outros quero que você me apresente.
Como já me apresentou coisas tão belas!
um beijo.
dri