domingo, 1 de março de 2009

A ISSO CHAMO COMPROMISSO

Querida,
a viagem de São Paulo a Londrina foi tranquila. Chguei cedo. No trajeto fiquei imaginando voce chegando, naquele mesmo horário no Rio de Janeiro. Porque viajamos ao mesmo tempo para lugares diferentes, justo no momento de sua viagem para Roma? Sem saber responder, peguei o meu caderninho e começei a lhe escrever para ter sua companhia nesta manhã, nesta cidade onde nos conhecemos um dia, onde começamos nossa história e onde sempre retornamos, você para rever seus pais eu para rever meus filhos.
Mudei tantas vezes de lugar! Há momentos que me sinto desterritorializado, isso me dá a sensação boa de pertencer a todos os lugares, outros momento sinto a a angústia de não ter lugar nenjum, não ter chão, a sensação de ser sempre um estrangeiro. Nesse terreno movediço, caminhar com você é meu porto mais seguro. Onde quer que você esteja, lembre-se disso, é a isso que chamo compromisso.
Cheguei em casa amanhecendo. O nosso amigo Peixe estava naturalmente dormindo. Manhã clara e fresca. Fiz o caminho do ponto do ônibus à porta do atelier caminhando devagar, sentindo o cheiro do capim orvalhado, escutando cachorros latindo, cantos de passarinhos, roncos de carros do outro lado do vale. Vi um bando de rolinhas caminhando na beira do asfalto. Vi o flambyant que plantamos na rua Julio Zanetti está gigante, forte, as raizes estufaram a calçada toda, arrisca derrubar o muro; na rua de baixo (rua Yvete dias da Silva), vi o coqueiro que plantamos, está crescendo, bonito, jovem, mas está balançando por causa da forte chuva de ontem, combinei com Peixe de escorá-lo com madeira para que ele não cair. Podei-o dos matos que se enroscavam nele e ele se mostra mais vistoso. Daqui há uns dez anos talvez possamos vê-lo grande e dando cocos; é a isso que chamo compromisso.
Na frente do portão, passo longo tempo escutando os ruidos do bosque: um bem-te-vi canta bonito, a água faz um doce marulhar entre as pedras la embaixo, no fundo do vale, as árvores galançam num farfalhar suave. Lembro-me das vezes que essa árvores balançando loucas com o vento, se jogavam para lá e para cá, arrancando os cabelos, qubrando galhos, rugindo como bichos numa verdadeira luta no ar, ou era dança? Ou estavam fazendo amor? Agora ambos se acariciam calmos, falam em voz baixa, contam segredos de ventos e de árvores e juntos vêem a manha nascer e juntos deixam o tempo existir, a isso chamo compromisso. Bom dia meu amor.

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